Arquivo para julho, 2010

Inação à paixão: xingar em estádio agora é crime

Posted in Direito e política on 30 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

Em que pese ser bem intencionado, por vezes o legislador é ingênuo. Temos inúmeros exemplos de leis com intuitos interessantes, porém na prática causou efeitos indesejados. Exemplo: meia-entrada em cinema e teatro para estudantes – no final das contas, dobraram o preço da inteira entrada dos ingressos.

Vamos a um caso específico. Foram sancionadas no dia 27/07/2010 as alterações ao Estatuto do Torcedor. O que achei mais incrível é a capacidade de o Estado legislar sobre algo que notoriamente admite que não tem como cumprir. Segundo foi noticiado, a partir de agora, efetuar xingamentos em estádios pode render até dois anos de cadeia. Nada de proferir palavras de baixo calão à mãe do árbitro. Nada de mandar para aquele lugar o jogador que erra um gol inacreditável. Muito menos questionar a inteligência do técnico que faz uma substituição polêmica no time. Tampouco entoar cânticos de gozação, sobretudo com teor sexual, à torcida adversária. Tudo isso agora é prática penal. A questão principal é como será possível tipificar individualmente essa conduta às pessoas num universo de milhares de espectadores, como um Maracanã lotado por 80 mil torcedores.

Criminalizar xingamentos em estádios passa longe de alguma lógica. A começar por quem é o ofendido: o jogador e a torcida, acostumados à gozação e que no fundo estão pouco se lixando para isso quando vão ao estádio? Se sim, eles que ingressem com uma ação penal privada por injúria, calúnia e difamação ou peçam danos morais. A sociedade? Então o pepino está com o Ministério Público. Mas xingamento de torcedor não seria algo muito pequeno para envolver o MP, defensor da sociedade e fiscal da lei? E os próprios jogadores, que se xingam entre si e, mais até do que as torcidas, às vezes se agridem (entenda-se aqui agressão no amplo sentido, seja na pancadaria estilo Emerson Leão, seja na falta violenta que põe em risco a integridade física do colega de jogo)? A agressão – ou melhor, a lesão corporal – já é conduta tipificada no Código Penal, inclusive com pena máxima maior do que esta prevista no ineditismo do Estatuto do Torcedor. Ainda corre-se o risco dos marginais infiltrados nas torcidas organizadas saírem no lucro.

Ah, sim: “o fundamental é estimular um comportamento diferente nos estádios”, disse o ministro dos Esportes, Orlando Silva. Que comportamento é esse? O esporte envolve paixões e sentimentos. No dia em que respeito entre as torcidas adversárias existir, o futebol perde a graça. Querer impedir um torcedor de esbravejar vai contra a natureza do ser humano. Uma coisa é a gozação saudável, o palavreado impensável em tom de desabafo. Outra coisa é isso ser um ponto de partida para a violência. E proibir o torcedor de torcer à sua mais costumeira e quase secular maneira não irá resolver o problema (ainda mais porque 90% das pessoas que vai a estádio não tem interesse em brigar). Não é algo cultural ou educacional. É algo passional.

O que acontecerá é que, se essa esdruxulice realmente pegar, veremos estádios vazios e um evento esportivo burocrático e sem emoção. Ao menos, na Copa de 2014, os gringos estão salvos: eles podem xingar na língua deles à vontade que ninguém vai entender.

Por fim, segue aí o modelo de torcida que o ministro dos Esportes almeja (gozações de cunho religioso dos atores do vídeo devem ser desconsideradas para efeitos deste blog):

Perigo sobre pedais

Posted in Sociedade on 25 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

Foi, de certa forma, um alívio assistir à reportagem do “DFTV”, 2ª edição, de 24/07/2010, acerca da imprudência de ciclistas no trânsito. Relatou-se até mesmo casos de embriaguez dos mesmos ao pedal.

O respeito entre motoristas e ciclistas deve ser mútuo. Pedem respeito, mas não respeitam. Quando morre um ciclista, fazem passeata e todo aquele infame discurso politicamente correto. Está certo que a péssima ciclovia no Lago Sul nada mais é do que o acostamento sobre o qual foram pintadas linhas pontilhadas, uma tremenda esdruxulice, porém é comum no bairro lacustre ver ciclistas pedalando fora da ciclovia. Alguns desrespeitam a sinalização, não parando no sinal vermelho nem esperando o automóvel efetuar a entrada ou o retorno. Vale lembrar que o ciclista também está sujeito à multa de trânsito, embora isso seja algo nunca antes visto. Cadê as ONGs, neste momento, para orientar seus pares?

Quando ocorre um acidente, o motorista é sempre quem leva a culpa e responde por homicídio culposo, dada a hipossuficiência do ciclista. No entanto, por vezes, a vítima é quem dá causa ao acidente.

ADITAMENTO – 23-09-2010: manifesto meu repúdio à néscia atitude de um grupo de ciclistas que resolveu pedalar na infernal EPTG em horário de pico, no dia 22/09/2010, propositadamente, com o intuito de chamar a atenção para o Dia Mundial Sem Carro. Se queriam chamar a atenção, acabaram despertando raiva e antipatia dos motoristas, desobrigados a aderir à data. Realmente, certas coisas que passam pela cabeça das pessoas são inexplicáveis!

Sobre Bruno…

Posted in Sociedade on 11 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

Se já postei neste blog colunas sobre a proximidade de Adriano e Vágner Love com a bandidagem, não me omitirei com relação a Bruno. O caso do goleiro do Flamengo é tão notório que, diferente de seus dois companheiros de clube supracitados, não está sendo noticiado nas páginas de esportes. Assim, enquadro esta coluna na categoria “sociedade”, não “futebol”.

Que Bruno é mau caráter, isso todos que acompanham futebol já sabem. Só não sabíamos que era tanto! No momento em que o provável assassinato de Eliza Samudio veio a público, torci bastante para que Bruno não tivesse culpa, mas parece que não tem jeito: ele está no meio e pronto!

O grande equívoco do Flamengo com relação a Bruno foi não tê-lo repreendido quando de suas primeiras fanfarrices ou declarações bestialógicas. No entanto, quanto ao caso Eliza, acho que o clube agiu corretamente, evitando atos ou declarações precipitadas, aguardando o desfecho com a polícia. Diferente do que menciona reportagem da edição da “VEJA” de 14/07/2010, o Flamengo não se omitiu: divulgou notas e suspendeu seu contrato e seus patrocínios. A rescisão contratual será consequência da suspensão, passo a passo. Para tal, o Flamengo reuniu advogados, juízes e desembargadores para analisarem o caso e sugerirem a medida mais plausível. Ainda assim, o clube retirou das lojas e de suas dependências todas as camisetas e painéis que envolvam o nome do goleiro, uma medida mais do que acertada.

A instituição clubística rubro-negra, até como praxe das típicas gozações entre torcedores, vê sua imagem depreciada em função da marginalidade de alguns de seus jogadores. Por mais que os meios de comunicação sutilmente vinculem sempre o caso com o clube e por mais que consideremos a falta de profissionalismos de antigos dirigentes, temos que desvincular o clube de um problema particular de seu funcionário. Quantos crimes já ocorreram envolvendo profissionais de empresas de renome, inclusive da grande emissora de tevê Rede Globo, e nem por isso associou-se a má conduta de uma pessoa em sua vida privada com a imagem do seu empregador? E com relação às pessoas com problemas de dependência química? Quando todas as semanas lemos ou ouvimos que um artista está com isso, outro está internado por aqui e por aí vai?

No caso Bruno, que se faça a justiça!

O maior espetáculo da Terra: Copa do Mundo 2010 – PARTE 4, ATO FINAL

Posted in Futebol on 11 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

A Copa chega ao fim! Bem-vinda, Espanha, ao seleto grupo de campeões do mundo! Se qualquer um dos três primeiros vencesse a Copa, não seria injustiça! Mais justo com os espanhóis! A melhor equipe foi campeã! A Alemanha foi a que melhor jogou, mas a melhor equipe é mesmo a Espanha! O polvo Paul acertou tudo! Polvo entende de futebol! Lula nem tanto! O polvo foi apenas um dos vários personagens da Copa na África, como a bola Jabulani e o azarento Mick Jagger.

Diego Forlán, do Uruguai, acaba de ser eleito o melhor jogador da Copa! Justíssimo! A Fifa, para o bem do futebol, foge à regra de escolher um dos finalistas como o melhor da competição! O Uruguai foi Forlán e mais dez. Suárez também foi muito bem, mas a reta final demonstrou que Forlán é mais essencial ao time uruguaio que Suárez! Numa participação excepcional, e eu diria até inesperada, o Uruguai ficou em quarto lugar na Copa. Os alemães, em terceiro! E já advirto: cuidado com a Alemanha em 2014! Özil e Muller estarão no auge da carreira e Schweinsteiger também estará numa idade (29-30 anos) em que a experiência que sua posição exige será fundamental.

Mas voltemos aos novos campeões do mundo! Muito se falou, inclusive eu, de David Villa, autor da maioria dos gols da Espanha nesta Copa! Esquecemos injustamente de Iniesta, co-parceiro de Villa nestes gols! E não é que o gol do título saiu dos pés de Iniesta? Quem também pode sair como herói na partida final é o goleiro Casillas! O sujeito simplesmente pegou dois chutes cara a cara de Robben! Não foi apenas demérito do holandês! Foi muito mérito do grande Casillas! Comemore, Casillas! Pode chorar de emoção à vontade! Ademais porque Sara Carbonero lhe espera!

Tecnicamente, a partida deixou a desejar! Muito faltosa! A arbitragem falhou em alguns momentos, inclusive deixando de expulsar jogadores, como De Jong, que deu uma patada no tórax de Xabi Alonso. A impressão que deu é a de que a Holanda cansou no final, torcendo para acabar logo a prorrogação e aguardar a incerteza dos pênaltis. Decisão por pênaltis é 50% estado emocional, 25% categoria e 25% sorte.

Com exceção do Brasil, todas as equipes sul-americanas merecem ser aplaudidas. Até a Argentina porque fez uma bela Copa, apesar da surra pra Alemanha, e o Chile, que saiu nas oitavas. Essa Copa demonstrou que não basta ganhar! Tem que ganhar e jogar bonito! Jogando bonito, a vitória costuma vir naturalmente! Claro que há exceções, como em 1982 e até mesmo em 1974 com a própria Holanda (embora, segundo vi daquela final de 74, a Alemanha deu um baile na Holanda). Dunga dizia que não adianta nada jogar bonito e perder. Pois o time de Dunga jogou feio e perdeu do mesmo jeito. Espero que essa Copa sirva para mostrar que o ataque é a melhor defesa. Chega de estilo defensivo! Os técnicos modernos gostam de vencer. Prezam a vitória, não a qualidade. É preciso renovar a maneira de se jogar futebol, ainda mais no Brasil, país em que jogadores excepcionais parecem cada vez mais surgir em série, não em produção corriqueira. Concentração, esconder jogo… isso não ganha partida! Como dizia Garrincha: faltou combinar com o adversário.

Se Copa do Mundo não fosse de quatro em quatro anos, ela não teria a emoção que tem! O espírito de Copa é algo tão forte que absolutamente todas as Seleções que perderam no mata-mata deixaram o campo chorando. Agora só em 2014! É hora de voltar aos nossos clubes do coração! Adeus, África! Até o Brasil!

Tridimensional!

Posted in Sociedade on 7 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

Sejamos sinceros: cinema 3D não passa de um motivo para cobrarem mais caro pelo ingresso por um atrativo que, na minha opinião, não tem nada de especial, além de ser um mal à saúde, conforme reportagem de 6/07 do Correio Braziliense.

De acordo com médicos, devido ao esforço feito pelo cérebro por um tempo prolongado, as pessoas que assistem a um filme em três dimensões podem ter tonturas, náuseas, alteração do equilíbrio e dores de cabeça, além do desconforto visual. E quem usa óculos por problemas de visão? Fica impedido de ver o filme?

Pior é que certas empresas de cinema não nos dão opção de escolha: determinados filmes só passam em 3D e pronto! Fiquemos atentos!

O maior espetáculo da Terra: Copa do Mundo 2010 – PARTE 3

Posted in Futebol on 3 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

E a Holanda elimina o Brasil

Dessa vez, iniciarei a coluna falando da Seleção Brasileira. Estou entalado. Apagão típico do meu Flamengo. Fizemos, contra o Chile e no 1º tempo contra a Holanda, nossa melhor exibição na Copa. Os chilenos marcam por pressão e costumam dar espaços: é tudo que o Brasil queria. No jogo mais fácil que tivemos, sapecamos 3 x 0 nos fregueses andinos.

Contra a Holanda, um jogo que gira em torno de um protagonista: Felipe Melo. O volante Felipe Melo é mais uma invenção de Dunga e sua maldita coerência e soberba. Melo está para a Copa de 2010 assim como Dunga está para a Copa de 1990. Talvez o Brasil ganhe o hexa em 2014 e Felipe Melo seja o técnico da Seleção na Copa de 2030. Quem acompanha futebol europeu há de convir que Felipe Melo fez boa temporada em 2009 pela Juventus, mas faz uma temporada pífia esse ano. Tê-lo no time é um risco, haja vista seu temperamento. Na partida em que fomos eliminados da Copa, Melo conseguiu a proeza de dar um passe no estilo Gérson para Robinho abrir o placar, fazer o primeiro gol contra do Brasil numa Copa e ainda ser expulso de campo. Boa, Felipe! Feito inédito!

Mas culpar Melo pela eliminação é uma injustiça, assim como culpar o azarento Mick Jagger. I can’t get no satisfaction. Primeiro: como já falei, 90% do gol brasileiro contra a Holanda foi de Felipe Melo. Segundo: a culpa no gol contra deve ser repartida com o goleiro Júlio César, que saiu catando borboleta. Terceiro: mais até do que sua própria culpa na já prevista expulsão, teve também culpa quem o convocou, o escalou e o manteve no time (lamento o cartão amarelo idiota que Ramires tomou contra o Chile, que o impediu de jogar as quartas-de-final). E quarto: o gol da virada, que decretou nossa volta para casa, saiu de um erro coletivo: a) Gilberto, repetindo Michel Bastos, deixando Robben deitar e rolar na esquerda; b) Juan jogando para escanteio uma bola que daria para ser jogada para lateral; c) a considerada melhor zaga do mundo permitir dois desvios de cabeça na pequena área no gol do pequenino Sneidjer (1,70m), um dos melhores, quiçá o melhor, jogador da Copa até então.

Nos quesitos técnico e tático, saímos de um 1º tempo maravilhoso e acabamos dominados no 2º tempo. Penso que faltou à Seleção Brasileira desacelerar a partida contra os holandeses na etapa final. Faltou alguém para pisar na bola (não no jogador adversário). O genial Paulo Vinicius Coelho, da ESPN, concorda comigo. Daniel Alves (grande decepção da Seleção nessa Copa) ou Kaká poderiam fazer isso. Melhor se fosse um meia no estilo Ronaldinho Gaúcho ou Paulo Henrique Ganso. É aí que mais uma vez aparece o erro do técnico pela má convocação. Todos torciam pelo Brasil, mas torciam contra Dunga. Santa incoerência, Batman! Nunca se viu uma Seleção Brasileira tão muda, até mesmo na derrota. Menos mal que a “Era Dunga versão treinador” se encerra aqui. Falam em Felipão para substituí-lo. Ótimo. Falam também no Leonardo. Péssimo. Repetir com Leonardo a mesma experiência que não deu certo com Dunga é burrice. Mesmo porque não disputaremos as próximas Eliminatórias e os testes ficarão por conta de amistosos, da Copa América de 2011 e da Copa das Confederações de 2013, também aqui no Brasil.

Nos vemos no aeroporto, Argentina!

Nada como um dia após outro dia. “Argentina fuera da Copa, que cosa triste! Messi no tener gol, que cosa triste”. Brincadeiras à parte, acho que todo brasileiro lavou a alma com a eliminação argentina pela Alemanha! Os alemães, mesmo sem Cacau, deram mais um chocolate nessa Copa. De contra-ataque em contra-ataque, é verdade, mas não há como negar que os alemães jogam muita bola! É bonito de ser ver! Özil e Schwensteiger foram os melhores em campo! O melequento técnico Joachim Löw bateu o rechonchudo Don Diego Maradona! A disciplina tática da Alemanha é digna de aplausos! E a defesa argentina explicou por que é tão criticada! Messi sairá injustiçado dessa Copa porque não fez nenhum gol, mas jogou bem em todas as partidas, com exceção do jogo contra a Alemanha.

Cada vez mais me convenço que o espírito de pátria é muito mais enraizado nos argentinos que nos brasileiros. E no futebol isso fica mais evidente. Após o fim do jogo, Maradona beijou e cumprimentou um por um dos seus jogadores. Em Buenos Aires, torcedores aplaudiram a equipe. E no Brasil, todos querendo achar culpados e Dunga esbravejando e dando murros no ar. Melancólico.

Gana e Paraguai fora, Uruguai e Espanha dentro

Como já disse noutra coluna, as Seleções asiáticas e africanas até que têm um certo talento, mas erram no momento crucial. São ingênuos. Veja Gana e sua inacreditável eliminação nas quartas-de-final frente ao Uruguai: pênalti no travessão no último minuto da prorrogação. A conversão do pênalti classificaria Gana para uma inédita semifinal de Copa do Mundo com presença africana. Suárez, com a nova “mano de Dios” que salvou o Uruguai de gol certo, saiu como herói pelo “pênalti privilegiado” que cometeu. Assim como no Direito Penal existe a aparente contradição do termo “homicídio privilegiado” (aquele homicídio envolto por enorme valor social, percebido pela moralidade subjetiva que faz o homicida crer que age de maneira eticamente correta), agora invento o “pênalti privilegiado”.

A Copa melhorou a partir das quartas-de-final. Espanha e Paraguai fizeram uma partida épica, com direito a pênaltis perdidos seguidamente para ambos os lados e um gol chorado do David Villa, candidato a craque da Copa, após três toques na trave! Simplesmente emocionante! Só perde para Uruguai x Gana! A linda modelo paraguaia Larissa Riquelme prometeu ficar nua caso o Paraguai vencesse a Copa, motivo pelo qual torci loucamente pelos nossos vizinhos! Não deu certo! Mas os paraguaios têm que ser aplaudidos de pé ao chegarem em Assunção. Fizeram sua melhor Copa e por muuuuito pouco não eliminaram a poderosa Espanha!

Oitavas-de-final com erros de arbitragem

As oitavas-de-final dessa Copa ficaram marcadas por dois crassos erros de arbitragem: o gol de Lampard não assinalado contra a Alemanha (vingança alemã pela Copa “roubada” que os ingleses ganharam sobre eles em 1966) e o gol em clamoroso impedimento de Tevez contra o México. Passou da hora de a tecnologia ajudar no futebol. Chega dessa balela de o erro humano fazer parte do charme do futebol. Charme é o escambal! Ainda com relação às oitavas, eu imaginava que Paraguai x Japão seria um jogo interessante. Errei feio. Foi o pior jogo da Copa. No final, minha tese de que os falsificados são melhores que os originais se comprovou: classificação paraguaia nos pênaltis!

E assim a Copa do Mundo chega às semifinais. Na última coluna da série, já saberemos quem será o campeão do mundo pelos próximos quatro anos.

PS.: Além do Torpedão Campeão, não aguento mais entrevista com a família dos jogadores! Coisas da Rede Globo!

Oficie-se ao Ministério da Educação!

Posted in Sociedade on 1 de julho de 2010 by Ricardo Santoro

Pausa nas colunas acerca da Copa do Mundo para falar de um item mais importante. Sempre considerei a educação, ao lado da saúde, o ponto principal que todo governante deve ter ao assumir um cargo público. Jean-Jacques Rousseau, que também escreveu sobre pedagogia (ver sua obra “Emílio”, publicada em 1762, que o obrigou a fugir da França para a Suíça e, mais tarde, para a Inglaterra, devido a, digamos, certas doutrinas inflamatórias rousseaunianas), já defendia mudanças radicais na educação para libertar o cidadão das mazelas da civilização. Como sempre, o filósofo mandou bem! É através da educação que formamos indivíduos capazes de assimilar adequadamente os conceitos necessários para a cidadania. Será que a corja política estaria no poder se o povo brasileiro fosse melhor educado? Aliás, brasileiro é engraçado: sabe que determinado político age notoriamente com improbidade, vota no elemento mesmo assim e depois é o primeiro a pedir sua cassação ou exigir o fim da corrupção e da impunidade quando tal elemento é pego “com a boca na botija”. Faríamos o mesmo de estivéssemos no lugar desse político ímprobo?

Voltando à vaca fria, a educação se inicia em casa, com os valores éticos e morais que os pais têm o DEVER de ensinar aos filhos, e termina na escola, com conhecimentos técnicos lecionados pelos professores. Mas, se ambos puderem revezar tais ensinamentos, melhor para o educando e melhor para o país. Professores não encontram no Brasil um ambiente propício para a educação pública: falta todo tipo de estrutura, faltam livros, falta higiene, falta interesse dos alunos, faltam salários dignos. Tal qual o médico na saúde pública, o professor também é uma vítima do descaso brasileiro com a educação e muitas vezes sai como vilão quando protesta ou ameaça greve (embora esse negócio de greve no Brasil, para mim, esteja ultrapassando todos os limites da plausibilidade e do bom senso, mas isto é assunto para outra coluna). Um bom professor necessita conciliar três itens: o domínio da matéria, o domínio da retórica (o saber explicar) e o domínio da retenção da atenção dos alunos. Sim, porque passar mais de uma hora fazendo-se ser ouvido requer criatividade.

Penso que o problema poderia começar a ser resolvido com uma ampla mudança no sistema educacional ensinado nas escolas, a iniciar pela grade curricular. Não se faz um aluno gostar de livros obrigando-o a ler, mas sim incentivando. Minha idolatria por Machado de Assis se iniciou nas aulas de Literatura do Ensino Fundamental e Médio: como eu gostava de saber que o Realismo nasceu em 1881 como oposição às tosquices dramáticas e ufanistas do Romantismo! Ou então estudar a influência portuguesa, o tempo das trovas ou as vanguardas européias no início do século 20 antecedendo o fantástico Modernismo, fruto da Semana de Arte Moderna de 1922.

Sou suspeito para falar, admito, mas penso que o ensino da área de Humanas deva ser mais frisado. Certos ensinamentos matemáticos, físicos e químicos que nos são enfiados goela abaixo não passam de meras “desvicissitudes”, tentativas de osmose. Por que não substituir aulas destinadas a Química Orgânica ou Binômio de Isaac Newton por aulas sobre Noções de Direito ou Economia? Até mesmo Primeiros Socorros. Quem sabe separar a parte de Ciência Política e Sociologia que estudamos dentro da disciplina História, diferente da Geopolítica dentro da Geografia e da Literatura e da Gramática dentro de Língua Portuguesa.

E a fábrica dos cursinhos? Cursinhos aparecem igual erva daninha. O grande erro já começa desde vestibulares e concursos públicos. Hoje, essas provas são feitas com o intuito de eliminar os candidatos, não de analisar quem tem mais adequação à vaga. Já escrevi na coluna “Prova tem que ser no canetão”, uma das primeiras deste blog, que o aluno/candidato demonstra seu conhecimento através de questões subjetivas, não de V ou F ou “xiszinhos” que favorecem o famoso “chute”. Mas fazer o quê: provas assim são mais fáceis de corrigir.

O sistema de notas e menções de certas instituições de ensino, como inclusive aquela em que me formei em Direito em 2009, deve ser revisto com urgência. Quer coisa mais injusta e antiquada do que II, MI, MM, MS e SS? Nada como a certeza, a frieza e a liquidez dos números. Os números, com os quais sempre tive rixa, agora lutam a meu favor. Um aluno acerta 60% das questões na primeira prova (MM) e 40% na segunda prova (MI). Pela regra geral, MM + MI faz prevalecer a última nota em razão da “queda de rendimento”. Com MI o aluno reprova, enquanto que a média aritmética (60% e 40%) das notas o aprovaria com 50%. Pior de tudo é quando a faculdade deixa a questão aprovação/reprovação a critério pessoal e subjetivo do professor. Convenhamos: não é nada ruim para as faculdades particulares reterem o aluno por mais tempo em sua instituição.

O que se tem visto no Brasil é um interesse particular de instituições de ensino e um método arcaico se sobrepondo aos reais fatores em que só nossos estudantes e cidadãos teriam a ganhar. Ou será que realmente o Estado, manipulador e dominador, tem interesse em manter o povo sob uma educação limitada?