E a Holanda elimina o Brasil
Dessa vez, iniciarei a coluna falando da Seleção Brasileira. Estou entalado. Apagão típico do meu Flamengo. Fizemos, contra o Chile e no 1º tempo contra a Holanda, nossa melhor exibição na Copa. Os chilenos marcam por pressão e costumam dar espaços: é tudo que o Brasil queria. No jogo mais fácil que tivemos, sapecamos 3 x 0 nos fregueses andinos.
Contra a Holanda, um jogo que gira em torno de um protagonista: Felipe Melo. O volante Felipe Melo é mais uma invenção de Dunga e sua maldita coerência e soberba. Melo está para a Copa de 2010 assim como Dunga está para a Copa de 1990. Talvez o Brasil ganhe o hexa em 2014 e Felipe Melo seja o técnico da Seleção na Copa de 2030. Quem acompanha futebol europeu há de convir que Felipe Melo fez boa temporada em 2009 pela Juventus, mas faz uma temporada pífia esse ano. Tê-lo no time é um risco, haja vista seu temperamento. Na partida em que fomos eliminados da Copa, Melo conseguiu a proeza de dar um passe no estilo Gérson para Robinho abrir o placar, fazer o primeiro gol contra do Brasil numa Copa e ainda ser expulso de campo. Boa, Felipe! Feito inédito!
Mas culpar Melo pela eliminação é uma injustiça, assim como culpar o azarento Mick Jagger. I can’t get no satisfaction. Primeiro: como já falei, 90% do gol brasileiro contra a Holanda foi de Felipe Melo. Segundo: a culpa no gol contra deve ser repartida com o goleiro Júlio César, que saiu catando borboleta. Terceiro: mais até do que sua própria culpa na já prevista expulsão, teve também culpa quem o convocou, o escalou e o manteve no time (lamento o cartão amarelo idiota que Ramires tomou contra o Chile, que o impediu de jogar as quartas-de-final). E quarto: o gol da virada, que decretou nossa volta para casa, saiu de um erro coletivo: a) Gilberto, repetindo Michel Bastos, deixando Robben deitar e rolar na esquerda; b) Juan jogando para escanteio uma bola que daria para ser jogada para lateral; c) a considerada melhor zaga do mundo permitir dois desvios de cabeça na pequena área no gol do pequenino Sneidjer (1,70m), um dos melhores, quiçá o melhor, jogador da Copa até então.
Nos quesitos técnico e tático, saímos de um 1º tempo maravilhoso e acabamos dominados no 2º tempo. Penso que faltou à Seleção Brasileira desacelerar a partida contra os holandeses na etapa final. Faltou alguém para pisar na bola (não no jogador adversário). O genial Paulo Vinicius Coelho, da ESPN, concorda comigo. Daniel Alves (grande decepção da Seleção nessa Copa) ou Kaká poderiam fazer isso. Melhor se fosse um meia no estilo Ronaldinho Gaúcho ou Paulo Henrique Ganso. É aí que mais uma vez aparece o erro do técnico pela má convocação. Todos torciam pelo Brasil, mas torciam contra Dunga. Santa incoerência, Batman! Nunca se viu uma Seleção Brasileira tão muda, até mesmo na derrota. Menos mal que a “Era Dunga versão treinador” se encerra aqui. Falam em Felipão para substituí-lo. Ótimo. Falam também no Leonardo. Péssimo. Repetir com Leonardo a mesma experiência que não deu certo com Dunga é burrice. Mesmo porque não disputaremos as próximas Eliminatórias e os testes ficarão por conta de amistosos, da Copa América de 2011 e da Copa das Confederações de 2013, também aqui no Brasil.
Nos vemos no aeroporto, Argentina!
Nada como um dia após outro dia. “Argentina fuera da Copa, que cosa triste! Messi no tener gol, que cosa triste”. Brincadeiras à parte, acho que todo brasileiro lavou a alma com a eliminação argentina pela Alemanha! Os alemães, mesmo sem Cacau, deram mais um chocolate nessa Copa. De contra-ataque em contra-ataque, é verdade, mas não há como negar que os alemães jogam muita bola! É bonito de ser ver! Özil e Schwensteiger foram os melhores em campo! O melequento técnico Joachim Löw bateu o rechonchudo Don Diego Maradona! A disciplina tática da Alemanha é digna de aplausos! E a defesa argentina explicou por que é tão criticada! Messi sairá injustiçado dessa Copa porque não fez nenhum gol, mas jogou bem em todas as partidas, com exceção do jogo contra a Alemanha.
Cada vez mais me convenço que o espírito de pátria é muito mais enraizado nos argentinos que nos brasileiros. E no futebol isso fica mais evidente. Após o fim do jogo, Maradona beijou e cumprimentou um por um dos seus jogadores. Em Buenos Aires, torcedores aplaudiram a equipe. E no Brasil, todos querendo achar culpados e Dunga esbravejando e dando murros no ar. Melancólico.
Gana e Paraguai fora, Uruguai e Espanha dentro
Como já disse noutra coluna, as Seleções asiáticas e africanas até que têm um certo talento, mas erram no momento crucial. São ingênuos. Veja Gana e sua inacreditável eliminação nas quartas-de-final frente ao Uruguai: pênalti no travessão no último minuto da prorrogação. A conversão do pênalti classificaria Gana para uma inédita semifinal de Copa do Mundo com presença africana. Suárez, com a nova “mano de Dios” que salvou o Uruguai de gol certo, saiu como herói pelo “pênalti privilegiado” que cometeu. Assim como no Direito Penal existe a aparente contradição do termo “homicídio privilegiado” (aquele homicídio envolto por enorme valor social, percebido pela moralidade subjetiva que faz o homicida crer que age de maneira eticamente correta), agora invento o “pênalti privilegiado”.
A Copa melhorou a partir das quartas-de-final. Espanha e Paraguai fizeram uma partida épica, com direito a pênaltis perdidos seguidamente para ambos os lados e um gol chorado do David Villa, candidato a craque da Copa, após três toques na trave! Simplesmente emocionante! Só perde para Uruguai x Gana! A linda modelo paraguaia Larissa Riquelme prometeu ficar nua caso o Paraguai vencesse a Copa, motivo pelo qual torci loucamente pelos nossos vizinhos! Não deu certo! Mas os paraguaios têm que ser aplaudidos de pé ao chegarem em Assunção. Fizeram sua melhor Copa e por muuuuito pouco não eliminaram a poderosa Espanha!
Oitavas-de-final com erros de arbitragem
As oitavas-de-final dessa Copa ficaram marcadas por dois crassos erros de arbitragem: o gol de Lampard não assinalado contra a Alemanha (vingança alemã pela Copa “roubada” que os ingleses ganharam sobre eles em 1966) e o gol em clamoroso impedimento de Tevez contra o México. Passou da hora de a tecnologia ajudar no futebol. Chega dessa balela de o erro humano fazer parte do charme do futebol. Charme é o escambal! Ainda com relação às oitavas, eu imaginava que Paraguai x Japão seria um jogo interessante. Errei feio. Foi o pior jogo da Copa. No final, minha tese de que os falsificados são melhores que os originais se comprovou: classificação paraguaia nos pênaltis!
E assim a Copa do Mundo chega às semifinais. Na última coluna da série, já saberemos quem será o campeão do mundo pelos próximos quatro anos.
PS.: Além do Torpedão Campeão, não aguento mais entrevista com a família dos jogadores! Coisas da Rede Globo!